

Conheça o vinho dos mortos
Em 1807 a família real decide fugir para o Brasil após Napoleão Bonaparte ordenar que as tropas francesas invadem Portugal. Assim, precisam de mecanismos para proteger os seus bens dos invasores, como seus vinhos. Muitas bebidas foram armazenadas em buracos no chão, incluindo na região de Trás-os-Montes — lugar onde são cultivadas uvas, além da produção vinícola.
Após essa agitação toda se acalmar, em 1811, os portugueses voltam para desenterrar os vinhos e ao consumirem perceberam que estes não se encontravam estragados, muito pelo contrário, apresentavam um paladar melhorado, isso porque a sua fermentação — realizado no escuro — e em temperatura constante, resultou em um vinho apaladado. Assim, nasceu o termo “Morto de Boticas” ou “Vinho dos Mortos”, um local onde prevalece o orgulho do vinho tradicional, sinônimo de resistência.
Essa tradição permanece embora a gama de fabricação não seja tão acentuada. Esse vinho pode ser produzido em todo o local regido, que seria na Indicação Geográfica Protegida do Vinho Regional Transmontano, que busca garantir a qualidade apesar de só existir um produtor oficial do mesmo.
A Adega Vinho dos Mortos, localizada em Boticas, pertence a Armindo Sousa Pereira — o viticultor que se dedica a esse vinho utilizando todo o seu conhecimento adquirido com seus pais e avós. Em 2008, veio para o mercado e passou por um enorme seguimento de regras com a finalidade de manter a classe.
Tudo se inicia em novembro com a plantação e a colheita no mês de outubro do próximo ano. Em seguida ocorre a pisa das uvas, a reserva do vinho em seis meses e o processo de fermentação. Depois é só certificar, engarrafar e enterrar cobrindo com saibro. É possível obter esta bebida no próprio local, pelo site ou nas lojas de Portugal.
É interessante citar que em 2008 também foi criado um museu denominado “Repositório Histórico do Vinho dos Mortos”, a fim de homenagear a história e a produção desse vinho marcante, que se tornou motivo para pessoas de vários lugares visitarem a região.
Falando agora um pouco dessa relação do vinho com o Brasil, a “Quinta do Olivardo” que acontece em São Roque todo mês, consiste numa celebração onde ocorre o enterro do Vinho dos Mortos, e os participantes recebem o convite para retornar ao local após seis meses e retirá-las dali.
Segundo Olivardo Saqui — dono da Quinta do Olivardo, o local que atingiu mais de oito mil pés de uva plantados e ainda produz 20 mil litros de vinho a cada ano — esta bebida traz alegria aos vivos. É fato que essa técnica foi adaptada com diferentes uvas dependendo da região, sem perder a essência e a representatividade, e a tendência é que continue se espalhando por aí e encantando seus consumidores.